Assassinatos e ameaças contra agentes penitenciários têm feito parte do cotidiano desses trabalhadores; governo é omisso
Superlotação das cadeias, trabalho precário e má gestão de recursos
públicos são críticas recorrentes ao governo de São Paulo (PSDB). Mas
nada se equipara ao medo e à insegurança frente às últimas mortes de
servidores.
De março a novembro morreram sete trabalhadores entre Agentes de
Segurança Penitenciária (ASPs) e Agentes de Escolta e Vigilância
Penitenciária (AEVPs). Os assassinatos ocorreram no litoral, região
metropolitana de São Paulo e interior.
Agnaldo Cardoso de Oliveira (25 de março), Paulo Alexandre Ribeiro
Rosa (15 de agosto), Charles Demitre Teixeira (21 de agosto), Agnaldo
Barbosa Lima (9 de setembro), Cleoni Geraldo Lima (07 de outubro),
Marcos Antônio Azenha (1º de novembro) e Jiorlando Santos de Oliveira
(22 de novembro) entraram para a lista de execuções, investigadas agora
pela polícia civil.
O presidente do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do
Estado de São Paulo (Sifuspesp), João Rinaldo Machado, refuta a hipótese
de assalto. “A polícia precisa investigar a fundo as execuções. O
governo de São Paulo é responsável também por não promover ações
anteriores”, pontua.
Para o diretor de Formação do Sifuspesp, Fábio Cesar Ferreira, o
Jabá, apesar de os trabalhadores ingressarem no sistema sabendo do risco
à profissão, a indignação cresce a cada nova execução. “Creio que o
crime tenta nos intimidar, desmobilizar, assustar a categoria, visto que
o governo de São Paulo não se manifesta sobre nenhuma morte, tantos a
dos trabalhadores do sistema prisional quanto os da segurança pública em
geral”, critica.
Jabá destaca que há uma tentativa de desconfigurar os assassinatos em
série. “Tudo isso é para não parecer execução porque tanto o crime como
o governo teme a nossa mobilização, pois literalmente temos as chaves
da unidade em nossas mãos”, destaca.
De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária de São
Paulo (SAP) trabalham 35.803 funcionários. Os agentes de segurança
penitenciária somam quase 24 mil trabalhadores (as). Nas 160 unidades
prisionais há um déficit de 87.777 de vagas nas cadeias.
A agente penitenciária, Carol Cardoso, relata que os servidores têm
se revoltado com a situação. “Estamos sendo caçados e executados pelo
crime organizado. A diferença entre agora e 2006 [quando o estado de São
Paulo foi tomado por facções] é que estão matando aos poucos.”
Pela primeira vez, o Diário Oficial do estado anunciou, em 13 de
novembro, que a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP)
pagará até R$ 120 mil de recompensa por denúncias que levem às prisões
dos assassinos.
Em 14 de novembro, dirigentes sindicais se
reuniram com o secretário da SAP, Lourival Gomes. Entre os temas
tratados estava o dos assassinatos. (Saiba mais no
http://migre.me/n7pJb)
A reportagem da CUT São Paulo entrou em contato com a SSP-SP para
saber sobre o andamento das investigações, mas até o fechamento da
matéria a Pasta não havia respondido.
Carol reconhece a medida, mas considera a ação tardia. “Não é um
assunto que gera grande repercussão com a população em geral, o que faz
com o que o governo não tome atitudes prévias. Não deveria esperar que
as mortes acontecessem em 2014. Há anos os agentes têm sido mortos”,
explica.
O diretor de Comunicação do Sifuspesp, Adriano Rodrigues dos Santos,
destaca que o governo estadual criou um muro quase intransponível.
“Falta transparência e o desconhecimento da população sobre isso se deve
também porque a grande mídia não descreve os fatos como deveria”,
resume.
Péssimas condições
Luiz da Silva Filho, o Danone, diretor de Saúde do Sifuspesp, avalia
que o governo estadual é incompetente na gestão pública. “Nos sentimos
desrespeitados porque além da insegurança, ainda convivemos com péssimas
condições de trabalho nos presídios. Cada dia mais morrem funcionários
porque adoecem ou são assassinados”.
Jabá explica que a superlotação é um dos principais problemas
enfrentados no cotidiano. “Não existem mais vagas no sistema, os presos
estão amontoados nas celas, o que dificulta até mesmo a conferência,
atendimentos jurídicos e médicos, a segurança e a disciplina interna”.
Para o secretário Geral do Sifuspesp, João Alfredo Oliveira, a
categoria está bastante assustada. “Aumenta a cada dia a dificuldade de
ampliar o quadro de funcionários porque são muitas as ameaças e os
riscos da profissão”, conclui.
Fonte: imprensa CUT