Com 62,91 candidatos para cada vaga, o curso em que Cleidileno foi aprovado era o mais concorrido da Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) 2014, que seleciona alunos para a USP e para a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
"Eu entrei em estado de choque quando me contaram, não conseguia juntar as palavras e cheguei a ficar sem dormir algumas noites", afirmou. O enfermeiro, que possui mestrado, dava aulas em faculdades e trabalhava na seção administrativa do hospital A. C. Camargo, que cuida de pacientes com câncer, área na qual pretende futuramente se especializar como médico.
- O enfermeiro Cleidileno Teixeira Silveira com a família em Ribeirão Preto, onde vai cursar medicina na USP
Silveira ajudou o pai a vender alho pelas ruas de Santo André e sempre estudou em escolas públicas. Ele diz que foi chamado de "louco" quando resolveu trocar a estabilidade profissional pelo banco do cursinho.
De segunda a sexta-feira, estudava cinco horas e meia por dia. No final de semana, dedicava 11 horas às apostilas "para tentar nivelar" com os colegas do curso pré-vestibular Anglo que iam prestar medicina, a maioria deles egressos de escolas particulares.
A primeira vez que Silveira tentou uma vaga em medicina foi em 1999. "Mas como trabalhava e estudava à noite, o resultado ficou muito aquém do que eu esperava", disse. Naquele ano, acabou ingressando em enfermagem na USP.
O enfermeiro afirma que decidiu levar adiante o sonho de cursar medicina quando soube que uma prima, moradora de Juiz de Fora (MG), havia se formado médica pelo sistema de cotas. A decisão aconteceu em setembro de 2012.
Poupança
Ele conta que tinha um "pé-de-meia" suficiente para cursar três anos de cursinho sem trabalhar. "Não esperava passar logo no primeiro ano." Além da USP, o candidato conseguiu vaga em outras quatro faculdades.Com o dinheiro que sobrou, Silveira alugou uma quitinete na avenida do Café, em Ribeirão, pela qual se chega à entrada da USP.
No último final de semana, o enfermeiro recebeu a visita do pai, Antonio, 60, da mãe, Solange, e da irmã, Regiane, também enfermeira. "Estamos muito orgulhosos dele", falou o pai.
Silveira gostou da nova cidade. "Pretendo agora estudar bastante, também curtir a vida e voltar a treinar futebol", diz o enfermeiro, que jogou como lateral-esquerdo no Santo André, aos 12 anos, e no Rio Branco, aos 17 anos.
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