Hoje, 35 anos depois, o UOL dá notícia de que um cidadão brasileiro entrou com um pedido de habeas corpus para evitar o que parece inevitável: a prisão do agora ex-presidente da República. E a causa não é trabalhista, nem política. Diferente do tempo do regime militar, o Brasil não é mais um regime de exceção, e sim uma Nação sob o estado de Direito. E uma democracia, que levou Lula ao posto máximo da administração pública com a missão de governar o país inteiro, porém imbuído da necessidade de melhorar a vida da classe de despossuídos que ele sempre representou. De ser diferente das antigas elites predatórias que ele sempre combateu. E agora todos os dedos apontam para Lula como o orquestrador da vasta rede simbiótica do PT com empresários, muitos dos quais já frequentadores da cadeia, para roubar dinheiro público.
Para Lula, a cadeia não seria novidade. Mas, se o motivo de sua primeira prisão hoje soa nobre e heroico, o da segunda é vexatório. Foi-lhe entregue um voto máximo de confiança: esperava-se que o ex-pau de arara governasse exemplarmente para diminuir a injustiça social e se comportasse de forma digna, à altura da investidura que lhe foi conferida. A revelação da corrupção recorde, que derrubou ao chão uma estatal do porte da Petrobras e se espalhou por todo o organismo do governo federal, é um desapontamento histórico do mesmo tamanho que tivemos com Fernando Collor, primeiro presidente eleito democraticamente depois do regime militar, que renunciou na esteira das denúncias de corrupção.
Se a elite política brasileira nunca se mostrou confiável, por sempre se colocar na posição de tirar proveito dos cargos públicos em benefício próprio, uma prática que não se resume ao governo federal nem ao PT, esperava-se que ao menos com Lula tivesse sido diferente; ele e o PT, que foi construído sobre um discurso purista em anos a fio de oposição à ditadura e aos corruptores de toda espécie. Ao subir a rampa do Palácio, porém, Lula se tornou tão de elite quanto qualquer outro. Ou pior: comportou-se como o pobre que passa fome e, quando come, se lambuza. Do sindicalista preso, sobrou apenas o comilão.
A Justiça tem reunido elementos para esclarecer e desmontar todas as
operações danosas realizadas durante a gestão do PT no governo federal.
Na verdade, já nem importa se Lula será indiciado ou não, será preso, ou
não. O dano está feito e o desencanto já aconteceu; o pasmo, também.
Não resta dignidade para quem se encontra entre duas situações
possíveis: a ignorância absurda, a omissão inaceitável em relação ao que
se passava à sua volta, ou a orquestração direta de tudo. Lula é a pá
de cal na esperança do povo brasileiro de encontrar um governante
honesto. Para fechar sua incrível biografia, mergulha no lixo da
história com um salto ornamental. Para o Brasil, o que resta? A polícia,
hoje a única garantia de que haverá um mínimo de ética na política.
Fonte: Thales Guaracy
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