Entidades criticam 'importação' de médicos e propõem paralisação nacional
Sindicatos, associações e conselhos médicos vão discutir se param as atividades após discurso de Dilma sobre a vinda de médicos estrangeiros
Entidades médicas do País reagiram com indignação ao
discurso da presidente Dilma Rousseff na tarde desta segunda-feira. Em
uma reunião com governadores e prefeitos após a onda de protestos dos
últimos dias, a presidente reforçou que o governo vai providenciar a
vinda de médicos estrangeiros para suprir a falta de profissionais nas
comunidades do interior. Segundo os representantes da categoria, Dilma
comete um grande erro ao tratar a imigração de médicos como uma
prioridade. Eles ainda anunciaram que cogitam uma paralisação como forma
de protesto.
Para quarta-feira foi convocada uma reunião, em São
Paulo, com representantes de conselhos, associações e sindicatos médicos
para discutir a paralisação nacional. De acordo com o vice-presidente
do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital Corrêa Lima, a
mobilização não vai prejudicar o atendimento à população. "A paralisação
está na pauta da nossa reunião, mas se ela for aprovada, não será feita
de maneira a atrapalhar a vida da população brasileira, tão sofrida e
carente", garantiu.
Segundo ele, há muito tempo as entidades médicas cobram
vontade política para melhorar o sistema de saúde no Brasil, mas
reforça que essa mudança não passa pela vinda de estrangeiros. "É
preciso anunciar concurso público, enquanto se implementa uma carreira
de Estado, bancado pela União, com remuneração digna e mínimas condiões
de trabalho para que os médicos do centro-sul possam ir para essas
regiões com carência", disse.
Ele ainda minimizou a proposta da presidente de lançar
um edital para que, primeiro médicos brasileiros se habilitem para as
vagas no interior do País, e somente depois as vagas para estrangeiros
serão abertas. "Sem condições de trabalho e bons salários os médicos não
vão", garantiu.
É preciso anunciar concurso público, enquanto se
implementa uma carreira de Estado, bancado pela União, com remuneração
digna e mínimas condiões de trabalho para que os médicos do centro-sul
possam ir para essas regiões com carência
Carlos Vital Corrêa Lima
Vice-presidente do CFM
De acordo com o presidente da Associação Médica
Brasileira (AMB), Florentino Cardoso, as entidades médicas
condenam a proposta do governo de trazer pessoas de outros países
- principalmente de Cuba - sem que passem pelo exame de revalidação dos
diplomas, ou que façam uma prova simplificada. "Precisamos ficar atentos
para que médicos, formados onde, ela (Dilma) está trazendo para o
Brasil. É sabido que o governo federal recruta jovens através de
partidos para irem estudar em Cuba financiados pelo governo, em uma
faculdade sem qualidade. O que Cuba tem de bom para exportar é o
charuto. Medicina de excelência em Cuba nunca ouvi falar", disse
Cardoso.
Para o presidente da AMB, os principais problemas da
saúde brasileira - subfinanciamento, gestão ruim e corrupção - não se
resolvem com a proposta de Dilma. "A presidente comete um grande
equívoco. Está comprovado que o maior impacto na saúde se dá por dois
fatores: acesso e qualidade. Se chego rápido num hospital com uma
ferida, e o médico é bom, ele cura. Se eu chego rápido, mas o médico é
ruim, não adianta de nada porque ele não vai saber tratar. Agora o que
acontece é que eu chego muito tarde no hospital, a ferida já se
transformou num abcesso, que acaba em amputação", disse, ao reforçar
que, com a vinda dos médicos estrangeiros o acesso ao sistema de saúde
pode até tornar-se mais rápido, mas a qualidade fica comprometida.
Já o diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo
(Simesp) Cid Carvalhaes, acredita que a contratação dos estrangeiros vai
mais prejudicar do que melhorar o sistema público de saúde. "Essa
complicação se dá pela dificuldade de adaptação de um estrangeiro em
qualquer país: língua, costumes, conhecimento, referências, Vamos
imaginar um médico que não domina o português, como vai entender
pacientes?", questionou.
O diretor disse ainda que a paralisação nacional é
apenas uma das possibilidades de pressão que podem ser utilizadas pela
categoria. "Não podemos simplificar as coisas, (a greve) é uma das
alternativas que se considera, mas não é solução definitiva, muito menos
única. O movimento é a favor da população", disse
Saúde é um dos pactos anunciados por Dilma
Ao contrário de seu pronunciamento ao País em cadeia de rádio e TV na última sexta-feira, a presidente Dilma apresentou nesta segunda-feira medidas concretas para a resolução dos principais pontos reivindicados pela onda de protestos há duas semanas. Ela elencou cinco pactos, sendo que o terceiro diz respeito à melhoria do sistema de saúde do País, acelerando "os investimentos já contratados em hospitais, UPAs (unidades de pronto-atendimento) e unidades básicas de saúde", disse Dilma.
Um dos temas mais polêmicos do pronunciamento de Dilma
em cadeia nacional, a contratação de médicos estrangeiros, foi novamente
abordado. Segundo Dilma, haverá um grande esforço de incentivos para
levar médicos brasileiros a áreas desabastecidas do País. Porém, na
indisponibilidade de médicos formados no País, o governo buscará mão de
obra estrangeira. "Quando não houver disponibilidade de médicos
brasileiros, contrataremos médicos estrangeiros", disse presidente, que
ressaltou que apenas 1,79% dos médicos que trabalham no País são
formados no exterior, em comparação com outros países como a Inglaterra
(onde os estrangeiros são 37% do total) e Estados Unidos (25%). No
entanto, a presidente não detalhou a partir de quando essas contratações
passarão a ser feitas.
Ela ainda anunciou a criação de 11 mil vagas em cursos de medicina e de 12 mil vagas de residência médica até 2017.
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