segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

MAMONAS ASSASSINAS - ARTISTAS CRITICAM GESTÃO DA CULTURA EM GUARULHOS

Evento sobre os Mamonas vira sessão de críticas à Secretaria de Cultura 
 
Diretor de Conservatório reage e aponta “irresponsabilidade verbal” dos artistas da cidade. E acusa: “Mamonas Assassinas da Cultura de Guarulhos”

Laila Fidelli
Laila Fidelli (foto) e Aldo di Julho cobraram Edmilson e foram criticados pelo diretor do Conservatório
LETICIA LOPES
Especial para o DG
O evento “Guarulhos Canta Mamonas”, no Teatro Adamastor, na quinta-feira passada (5) virou uma sessão de críticas à Secretária de Cultura do município e provocou uma dura resposta do diretor do Conservatório Municipal, Paulo Moraes.
“Precisamos acabar com esse sistema de gestão arcaico que impera na cidade há mais de 20 anos; de lá para cá, a história é a mesma”, disse a produtora Laila Fidelli no dia 5, perante uma plateia de mais de 200 pessoas.
O produtor Aldo Di Julho também criticou a Secretaria. “Quase perdemos a data do show, depois de tudo feito. A Secretaria disse que a data atrapalharia o evento de aniversário da cidade”.
“Liberaram a data duas semanas antes do show, além de dificultarem a divulgação na Agenda Cultural; fora os problemas de estrutura. Tivemos de colocar as faixas de divulgação na rua, durante a madrugada”, acrescentou Di Julho.
O “gancho” para as críticas foi o áudio feito pelos próprios “Mamonas Assassinas”, gravado na época que eles se apresentaram pela primeira vez na cidade, em 1996, após virarem sucesso nacional. O prefeito da época era Vicente Papotto.
O áudio foi exibido na abertura do evento da semana passada. Nele, o líder dos Mamonas, Dinho estava criticando as autoridades da época que não deixaram eles tocar no “Thomeuzão”.
O clima não esquentou só na frente do palco. Depois das críticas, o secretário de Cultura, Edmilson Souza, que estava presente, foi atrás do palco e cobrou Aldo di Julho:
“A moça lá (Laila Fidelli) vai falar que o projeto foi financiado pelo FunCultura? Vocês estão com a aparelhagem da Prefeitura”.
Di Julho respondeu: “Não estamos, tudo foi locado por nós”.
Após o show, o diretor do Conservatório, Paulo Moraes, que não estava presente ao evento, divulgou um longo texto em sua página no Facebook, repudiando as críticas à Secretaria.
Título do texto: “Mamonas Assassinas da Cultura Guarulhense”.
“Infelizmente, tenho de tornar pública a minha insatisfação com o ocorrido no ‘Guarulhos Canta Mamonas’, pois me senti agredido e confesso desanimado com essa coisa da crítica pela critica a que estamos nos acostumando, por parte de alguns artistas da cidade, da verdadeira irresponsabilidade verbal”, disse Paulo Moraes.
O diretor acrescentou: “Óbvio que temos problemas; nós, funcionários e toda a classe artística, mas nosso campo de batalha hoje ultrapassa os limites deste município, nossa praça de guerra está recheada de novidades em armamentos da comunicação, e faz-se necessário combater a xenofobia”.
O diretor falou ainda sobre as dificuldades também encontradas na Prefeitura para a realização dos eventos na cidade. O post foi retirado nesta segunda (9) de sua página no Facebook.
A produtora Laila Fidelli treplicou. Em entrevista ao DG, nesta segunda (9), ela afirmou: “Foi colocado o evento na Agenda Cultural um dia antes do show. O apoio da FunCultura nem foi citado”.
O CD foi realizado por vários artistas da cidade, com releituras dos sucessos da banda guarulhense. Segundo Laila, as dificuldades dos artistas no município seriam “imensas”.
“Sempre é assim, cedem o espaço e o artista deve contratar a estrutura faltante no evento. Isso inclui microfones, iluminação, entre outros. Existem artistas que pagam a estrutura do evento próprio bolso. E o cachê não compensa o gasto. Qual é a desculpa?” disse ela.
Laila, porém, contemporizou: “A gestão atual não foi o alvo das reivindicações, mas o que dissemos não foi nenhuma novidade!”.
E reclamou das críticas de Paulo Moraes. “Foi uma retaliação”.
Disse que ainda pretende continuar com os trabalhos de divulgação dos produtores culturais de Guarulhos,  mas ameaçou: “Se o responsável for à gestão atual, não vou mais apoiar, para não prejudicar nenhum artista”.
Todos os integrantes dos Mamonas morreram na noite de 2 de março de 1996 quando o jatinho em voltavam de um show em Brasília explodiu na Serra da Cantareira, durante uma tempestade.

Leia na íntegra a resposta do diretor do Conservatório, Paulo Moraes.

Mamonas Assassinas da Cultura Guarulhense
Quando iniciamos a luta pela cultura na cidade de Guarulhos (falando hoje como funcionário público e ligado também à luta política da cidade), muitas das pessoas que agora se arvoram os grandes produtores, os grandes diretores, os grandes músicos, enfim, a nata da cultura guarulhense, não era nem nascida, e outros estavam por aí, mas não queriam “sujar as mãos na política”.
A Internet não existia e a luta era muito mais dura e cruel. A cidade não possuía teatro, e sua maior escola de música estava jogada às traças, e tantas eram as ausências de estrutura e projetos que não é possível nem ao menos uma simples comparação do passado com a atualidade.
 Hoje, o PT esta sendo escorraçado por muita gente, e é perfeitamente entendível, Eu mesmo sofro diariamente com as dúvidas e o tsunami de críticas e linchamentos pós-mensalão, mas manter três mandatos de presidente e quatro em Guarulhos é no mínimo surpreendente.
Por que isso aconteceu? Porque, apesar de todas as críticas, a cidade se transformou.
 Sim, a coisa não é tão simples, e os guerrilheiros do intelecto vão descer o pau no que acabei de afirmar, mas estou plenamente convicto do que digo (não, não vou fazer lista de obras e ações de governo), e esse não é o ponto que desejo alfinetar.
Na abertura de seu livro: “Era dos Extremos”, o grande historiador Eric Hobsbawn diz no prefácio: “…não é possível escrever a história do séc. XX como a de qualquer outra época, …..ninguém pode escrever sobre o seu próprio tempo de vida como pode fazer em relação a uma época conhecida apenas de fora…” Ou seja, a história vai ser contada um dia, sob a luz do tempo.
O que podemos dizer agora, como integrantes deste momento, vai assumir a forma das nossas posições e entendimentos pessoais e muitas vezes cheios de distorções e preconceitos.
Falar isso ou aquilo do trabalho realizado pela Secretaria de Cultura de Guarulhos, do PT, sob a administração do Edmilson, sem conhecer os procedimentos e dificuldades, achando que a Prefeitura tem de ser “Perfeitura”, é achar que a democracia dentro do capitalismo é plena, é acreditar em fadas e duendes, é crer num sistema político que simplesmente não existe.
Engraçado que muitos dos que mais reclamam são muitas vezes os mais atendidos, e aqui, infelizmente, com dor no coração, mas motivado pela força dos acontecimentos e em defesa de quem luta dentro do sistema para melhorar as coisas, tenho de discordar dos produtores do “Guarulhos Canta Mamonas” sobre as críticas à Secretaria de Cultura, feitas no espaço público do Adamastor Centro esta semana.
Não pelo conteúdo da crítica em si, que também discordo, mas pela forma agressiva e desrespeitosa, atingindo não somente o secretário, mas os funcionários que trabalharam muito para que o projeto pudesse ir em frente, com todas as dificuldades, e o próprio público presente.
Usar o microfone para agredir daquela maneira, sem direito de resposta, é covardia. Depois, ainda postam criticas no Facebook, como se este fosse o fórum mais adequado para quem tem um projeto financiado com dinheiro público.
Responsáveis que fossem, e se tão sérias as dificuldades, deveriam ter cancelado a apresentação. A pior característica deste fato foi a agressividade, a ferocidade de quem, mesmo financiados com dinheiro público, desconhece, ou finge desconhecer as dificuldades dos procedimentos da máquina pública, inclusive com alguns funcionários da própria Prefeitura apoiando as críticas, motivados também por iras individuais, estes que estão por aí, parlando, parlando, mas produzindo muito pouco para o nível da soberba e arrogância.
Estes, se estivessem na direção da Secretaria, iriam com certeza resolver toda a crise cultural da cidade – puro ufanismo demagógico.
 Os últimos anos promoveram uma verdadeira revolução para a cultura de Guarulhos, e o Edmilson esteve à frente disso. Parabéns para ele, que recebe os artistas de Guarulhos constantemente, que promove o diálogo e tem postura pública e política. Uma pessoa que passei a admirar sem santificação, principalmente pela sua característica de atuação firme e sincera.
Infelizmente, tenho de tornar pública a minha insatisfação com o ocorrido no “Guarulhos canta Mamonas”, pois me senti agredido e, confesso, desanimado com essa coisa da crítica pela crítica a que estamos nos acostumando, por parte de alguns artistas da cidade, da verdadeira irresponsabilidade verbal.
Óbvio que temos problemas, nós, funcionários, e toda a classe artística, mas nosso campo de batalha hoje ultrapassa os limites deste município, nossa praça de guerra está recheada de novidades em armamentos da comunicação, e faz-se necessário combater a xenofobia.
A Internet é fascinante, mas tem incentivado a escrita fácil e irresponsável. Por isso, venho a público defender meus colegas e amigos da Cultura, batalhadores e sabedores das dificuldades, carregadores de pedras musicais ladeira acima, mastigadores de pregos literários, batedores de ponto dançantes, autoflagelados pelas artes plásticas, digeridos pelo ácido estomacal das leis de responsabilidade. E somente o tempo poderá julgar.
Resta-nos continuar na luta, apesar da indignação e do desânimo desse fato provocado por “amigos”. As
consequências deste texto eu sei quais serão, mas é isso.

Paulo Moraes – Diretor – Secretaria de Cultura de Guarulhos

Leia na íntegra um resumo das críticas dos produtores culturais, divulgado pelo repórter Marcos Fellipe:

Na última quinta-feira (05) durante a abertura do show de lançamento do CD “Guarulhos Canta Mamonas”, no Centro Educacional Adamastor, os produtores do evento criticaram severamente o sistema de gestão da Cultura da cidade que, de acordo com eles, emperra as ações de artistas, produtores, músicos e até mesmo de funcionários que “são impedidos” de trabalhar por falta de condições.
Entre as principais críticas, os altos cachês pagos aos artistas que estão na mídia, a falta de estrutura e de equipamentos e os boicotes que sofrem os artistas locais com cachês irrisórios.
Aldo di Julho, idealizador do projeto e produtor do trabalho confirmou que, mesmo estando realizando um trabalho em homenagem aos Mamonas Assassinas, ainda sim o projeto quase foi abortado, mesmo tendo sido financiado pelo FunCultura.
” Quase perdemos a data do show depois de tudo feito. A Secretaria disse que a data atrapalharia o evento de aniversário da cidade. Me liberaram a data, duas semanas antes do show além de dificultarem a divulgação na Agenda Cultural, fora os problemas de estrutura. Tivemos que colocar as faixas de divulgação na rua durante a madrugada”, afirmou Di Julho.
O trabalho foi realizado por vários artistas da cidade cantando releituras dos sucessos da banda.

“Há de se ressaltar que, os Mamonas só tiveram espaço na cidade após terem sido reconhecidos nacionalmente. A banda que se tornou fenômeno no final dos anos 90 precisou, antes disso, implorar uma oportunidade para tocar antes do sucesso no Thomeozão, e a resposta como sempre foi negativa”. Precisamos acabar com esse sistema de gestão arcaico que impera na cidade há mais de 20 anos”, disse a produtora Laila Fidelli.
O vídeo do show com críticas feitas pelo vocalista Dinho, quando a banda se apresentou pela primeira vez na cidade após o sucesso, foi exibido na abertura do evento, sob aplausos do público presente.
As críticas feitas publicamente, sem nenhum cunho partidário, não repercutiram bem junto à Secretaria de Cultura e à Prefeitura. O diretor Paulo Moraes, que não estava presente no evento, divulgou nota em sua página no Facebook repudiando as críticas feitas à Secretaria.
Em tom pejorativo ele abre o texto com o título “Mamonas Assassinas da Cultura Guarulhense”. Mas quem de fato teria “assassinado” a cultura na cidade ? Tire você suas conclusões.

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