Na casa do religioso, a polícia encontrou um revólver calibre 38 e uma espingarda calibre 12
Investigação começou a partir de denúncias em livro
Os casos de abusos contra os garotos de Caçapava teriam ocorrido há cerca de cinco anos,
mas chegaram ao conhecimento da polícia em setembro, impulsionados por
um pedido de investigação do Ministério Público, após o lançamento de um
livro escrito pelo comerciante mineiro Marcelo Ribeiro,
49 anos, no qual narra ter sofrido agressões sexuais atribuídas ao
religioso, identificado por maestro, nas décadas de 1970 e 1980.
A publicação ganhou destaque na imprensa nacional e chamou atenção
das autoridades de Caçapava. As primeiras suspeitas surgiram quando foi
constatado que a abadia não estava registrada como abrigo no Juizado da Infância e da Juventude. Sem cadastro, não era fiscalizada.
Os garotos, hoje com 17 e 18 anos, teriam sido seduzidos por promessa
de dinheiro e presentes como bicicleta. Os abusos seriam em forma de
carícias, beijos na boca e masturbação.
— São vítimas duplamente
vulneráveis, uma porque tinham menos de 14 anos, e outra porque viviam
em situação de vulnerabilidade social, um deles, órfão — relata o
delegado Fabrício de Santis Conceição, da Delegacia da Polícia Civil de
Caçapava do Sul.
Polícia afirma ter identificado seis casos de abuso
Dom Marcos, nascido e criado em Caçapava, onde foi coroinha e
catequista até chegar a padre, se especializou em música sacra na
Alemanha e Espanha, trabalhou na Argentina, foi professor e organizou corais de meninos em Novo Hamburgo, Santa Maria, Pelotas, Frederico Westphalen, Diamantina e Juiz de Fora (MG) e Petrópolis (RJ).
A polícia já colheu 15 depoimentos e afirma ter identificado seis vitimas de abusos,
sendo que quatro casos são antigos, e os crimes, se existiram, já estão
prescritos. Um deles teria como vítima Ribeiro, que viajou de São Paulo
para prestar depoimento em Caçapava. O segundo é Alexandre Diel, de São Leopoldo, que também relatou à polícia ter sido vítima na juventude, ao participar de um coral dirigido por Dom Marcos.
O terceiro caso refere-se a um homem, de 42 anos,
morador de Novo Hamburgo, que enfrenta distúrbios mentais e estaria
internado em uma clínica psiquiátrica em consequência dos danos sofridos
na adolescência. O quarto é o caso mais antigo e surpreendente. A
polícia localizou em Santana da Boa Vista, cidade de 8,4 mil moradores,
vizinha à Caçapava, um agricultor de 61 anos, que tomou coragem e
admitiu ter sido abusado há mais de 50 anos, entre 1961 e 1964, quando
tinha entre 8 e 11 anos.
— Era coroinha da igreja e queria
aprender a tocar flauta com o irmão João, então nome usado por Dom
Marcos que ainda não era padre. Hoje é casado, pai de família. Disse-me,
chorando, que por causa do trauma, até os 30 anos, não teve coragem de
se relacionar com uma mulher — afirma o delegado Fabrício de Santis
Conceição, da Delegacia da Polícia Civil de Caçapava do Sul.
Embora esses relatos sejam incapazes de gerar processos, por causa da
prescrição, o delegado acredita que eles poderão ajudar o juiz a firmar
convicção na hora de julgar os casos dos dois jovens.
— São
todas pessoas que não se conhecem, que relatam a mesma conduta, com
assédio sempre à noite, no quarto do suspeito ou da vítima — acrescenta o
delegado.
Além de escrever um livro, Ribeiro gravou uma
conversa telefônica com Dom Marcos, na qual Ribeiro recorda dos abusos e
o religioso não os constestaria. O religioso também é investigado por
supostas práticas racistas.
A polícia criou um e-mail (silenciodosinocentes@gmail.com)
para colher relatos que possam contribuir com as investigações. Também é
possível ligar para a DP de Caçapava no telefone (55) 3281.1720.
Religioso nega envolvimento em crimes
Dom Marcos de Santa Helena sempre negou com veemência o envolvimento em crimes e se diz vítima de uma jogada de marketing para alavancar as venda do livro do ex-aluno.
Fonte: Zero Hora e Midiamax
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